quarta-feira, 1 de abril de 2015

À tardinha

Acordou a roer uma bota de borracha. Era já a terceira vez naquela semana que despertava com hálito a galocha. Cuspiu a bota, lavou a boca sete vezes (ou meia dúzia) com desentupidor de canos ultra concentrado de tripla acção incandescente e extra efeverscência garantida. Inofensivo para os anões caucasianos de meia idade mas letal para a comunidade de ursos polares da ilha do Rato. Antigamente eram aos cardumes, hoje em dia não se lá encontra um, mesmo procurando muito bem e sendo um indivíduo que domine a arte de bem procurar.
Aborrecia-lhe o glamour das mamas de silicone, os jactos privados davam-lhe sono e limpava com assídua frequência o cú a listas VIP das mais variadas proveniências. Ocasionalmente cheirava-lhe a esturro, era aquela coisa do conflito geracional que cozinhava algures em algum lugar desencantado da cidade. Certamente numa vida cabem todas as idades e nem por isso se entra em conflito consigo próprio, pelo menos não por essas razões. Pensava para com os seus botões, que eram poucos, os que restavam.
Exasperava por algo mais que não apenas o contentamento da vaidade, caixinhas enfeitadas com lacinhos ás corzinhas, vazias na sua maior parte.

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