segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Com estes dois que a terra há-de comer

Vi os ordenados a descer. E os iates a crescer. Vi as mercearias a fechar. E os Belmiros a aumentar. Vi o Euro a vazar Portugal de gente. E o BCE a esfregar as mãos de contente. Vi a pobreza que por aqui vai. E os barões às compras no Dubai. Vi meio mundo a chorar de fome. E outra metade que tudo consome.
E fora o resto que eu não vi,  nem vejo.
A força de lutar contra as injustiças, sem pudor nem pejo. O querer que vem de dentro, o subconsciente desejo de escapar de areias movediças, a alma em carne viva, o sangue a ferver, o desassossego que rasga a pele com a urgência da resolução, nada disso eu vi, ou vejo, aqui  ou na televisão. Mas espero ainda ver com estes dois que a terra há-de comer.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Natal desperta as emoções e, definitivamente, eu não sou o Dalai Lama

Acendam velinhas para as criancinhas. Mas acendam também braços e pernas. E mexam-se, movimentem contas bancárias a favor das criancinhas, e não contra como é  costume. E já agora não  roubem as criancinhas, que já  é  um bom começo e poupa-se um dinheirão em velas.
Tanta gente que passa o Natal sozinha, dizem muito comovidos e tocados e genuinamente afectados. Antes de irem passar a consoada num hotel de 5 estrelas? Com tudo o que têm direito, o caviar, o chompánhe, o sangue das criancinhas, mais os milhões desviados e os tostões furados dos pensionistas. E o que sobrar fica para futebóis, supercarros, superestrelas das mais variadas áreas, casas na praia, crashes da Bolsa, crises financeiras e bolhas imobiliárias. Pelo meio  fica aquela  gente que fica ainda mais sozinha desde que inventaram isto do Natal.
Lá estou eu armado em carapau de corrida, de barriga cheia, no quentinho, a dar para parvo. Não  consigo evitar, é-me natural esta estupidez confesso, não há aconchego que me aconchegue, é  fugaz o sossego em mim, rarefeita a etiqueta e nula a hipocrisia. Nem que metessem três velas no olho e fizessem malabarismo com elas conseguiriam ajudar as criancinhas como todo o dinheiro que circula no Natal poderia fazer.
Por isso, continuem a acender velas, e tirem-lhes fotos com os vossos topos de gama. Assim, pelo menos uma vez por ano, não nos esquecemos das criancinhas.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Ho Ho Ho

Eu nunca vi o Pai Natal. Nem sequer o menino Jesus. Mas vi o Diabo a assar sardinhas num dia de Verão. E, no meio do calor abrasador, por lá não encontrei ninguém que esperava encontrar. Do herói  ao mais mau do que os outros, não  vi nem um, nem  o outro. Do contador de estórias ao mascarado de tudo menos dele próprio, nem num deles eu pus a vista em cima enquanto suava diante do Chifrudo.

Esquizofrénico, eus? Nã.

Apenas tenho em mim todas as dores do universo. De cara colada com todos os sonhos que me abraçam dançando um tango apaixonado.
Em mim tenho tudo o que é. E nada a meio gás. Choro com a mesma paixão com que rio até ás lágrimas, luto com o mesmo fervor com que amo.
Tantas vezes morri de amor, mais que muitas, e outras tantas do mesmo amor renasci. O meu único medo é morrer em vida, estar vivo não estando, tendo na cabeça nada mais do que uma ligeira e inócua corrente de ar.
Que a loucura seja o preço a pagar para se estar vivo se estar são é estar-se morto vivendo.

Ninguém dúvida que seja Natal...

Há  muitos anos atrás, algures na Palestina, nasceu um menino que se viria a tornar um homem influente. Seguido por uns, odiado por outros pelas mesmas razões, apregoou acima de tudo a igualdade entre os homens, para além da cor, do estrato social, da posição. Este homem, de seu nome Jesus, morreu na cruz. Quem o ressuscitou matou a sua revolução, retirou-lhe todo o valor  de ser nem mais nem menos do que um soldado para passar a ser uma espécie  de Rei, uma ilusão,um tranquilizante para acabar com as rebeliões contra o poder imposto, contra os impérios  escravizadores e escravizantes que se baseiam na confiscação dos bens das massas para sustentar as elites, a que deram o nome de religião.
A maior prova de que Jesus não ressuscitou é o chorrilho de mentiras que são as escrituras sagradas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A escolha da ilusão

Depois de uma atenta e cuidada análise dos dados dísponiveis e atendendo ao enquadramento geral no quadro internacional actual, em conformidade com o exposto nos artigos 54,73 e 87 do código de comportamento social descabido, venho por este meio informar que está fresquinho.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A obra prima do mestre ou a prima do mestre de obras?

Haveria tanto para dizer sobre os mais variadíssimos assuntos que mais vale não dizer absolutamente nada, nicles, népia,  nestum,  rien, zerinhos...
De algum modo mais ou menos eficaz  X há-de alinhar-se com Z e Y em algum ponto da viagem e a tridimensionalidade trará aos nossos olhos as  inevitáveis evidências camufladas pela monocromia vigente. Nesta terra quem tem um olho é rei mas é a mim que me vêm ao olho, e eu não estou cego, por enquanto. Diz-me com quem andas dir-te-ei se vais preso ou se pagas a caução. Quem te avisa teu assalariado é.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Especificamente falando

Será suficiente se me declarar ausente por tempo indeterminado?
Se houver um motivo contundente que se prenda com uma causa recente não vejo motivo para estar desmotivado. Agora o que não se pode é assobiar para o lado, que isso quase que é pecado. É coisa que me tira o cuidado, fico fulo, marafado, ao invés de andar contente.
E que nunca lhe doa o olho a quem é filho de boa gente. Mas aos parentes da corrupção eminente, e já que a mim não me doi nada, o meu desejo veemente é que andem três meses com a anilha inflamada, e que não lhes passe com nada. Nem comprimido, nem cházinho, nem pomada.
Boa noite e obrigada.

Nem eu sei de que é que sinto saudade

Só a mim me sinto.
Ou será que me sinto só?
Somente a mim me minto.
Ou sinto a minha mente. Só.
Só um momento de absinto em frente,
que me leve no sentido da corrente e me liberte do pó. Que é só o que sinto.
Para além de mim só.