quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Só me apetece é uivar à Lua

Dizem que a vida são dois dias mas já passaram uns bons pares de semanas desde que nasci, novecentos e sessenta e dois para ser mais exacto, nada de relevante ou sequer de irrisório, contas de um rosário que eu nunca segui. Pr'aí dez, ou mais, mandamentos que decidi legitimar não os acatando, fundamentos fundamentados em passados defraudados por documentos falsificados em caves obscuras de templos diversos. Aqui me mantenho, um renitente grão de areia, reincidente do cair com estilo e levantar com graça, acredito ser maior do que o que aparenta o meu tamanho, não duvido que tenho dúvidas e quase sempre me engano a meu favor, como qualquer outro. Tudo o que gostaria de ouvir era tudo o que nunca ouvi enquanto me canso de esperar pela esperança, no entanto não me canso de dançar na chuva molhada, matar a sede com a água sagrada das mais recônditas nascentes.
É preciso querer muito mais, esgravatar a terra com as unhas, desbravar caminhos que não sejam becos sem saída, galgar terreno, pôr os colhões em cima da mesa porra. Não, que isso só não basta, há que bater com eles estrondosamente na mesa e dizer chega. Depois é meter gelo que é coisa que tudo alivia.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O mordomo

Esperava ansiosamente que lhe ordenassem o que fazer, para poder viver.
Uma vida vazia sem a ordem do patrão e ao fim do dia a gamela de ração pela mão que não se morde. Prostrado, marreco de olhar para o chão para ver onde pôr os pés. Quando os pés se querem asas.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Para começar

A Deus serrei-lhe as pernas, estava alto demais. Aos gurus serrei-lhes a cabeça, pelas mesmas razões. Não sei se já disse que não vou em futebóis, ou sequer em procissões, que é como quem diz redes sociais, virtuais ou não virtuais, analógicas ou digitais. E muito menos em super-heróis de fancaria fabricados em série. Como diz a canção "quando tu me vires no futebol, estarei no campo, cabeça ao sol". Sou assim, temperado pela intempérie, encaminhado pelos maus caminhos até ao caminho certo, que há-de chegar um dia. Vomitado pelo tempo num dia de tempestade, é o caos meu aconchego, toda a minha ambição é desapego do lastro que me atrasa e me arrasta na lama rasa de alma vazia da mediocridade. Como se eu o fosse menos do que os demais aqui na minha gaiola.